Porque olhares tão longínquos dizem onde estão.

//O porto é um canto de reflexão para o velho Theo.

Bruno Mendes
2 min readApr 27, 2021

Quando chego no porto e busco repouso às vezes me pergunto por que olhares tão longínquos quando as pessoas estão próximas umas das outras? Por que tanta caricatura pintada de quem não somos para mostrar que simplesmente somos fortes? É quando me pergunto quem foi que disse que precisamos ser fortes a todo instante? Inabalável és, óh, rochedos inóspitos, que desde o mundo antigo se mantém inabalado, mesmo ao ver diante de si as atrocidades que os homens têm causado com seu próximo estando tão próximo de seu próximo viaja com olhares para lugares distantes. Em outras vezes me pego enciumado por não ser como a rocha, mas me lembro que neste mundo somos perseguidos por uma nuvem carregada de aflições.

Às vezes me vejo perdido nos pensamentos de outros e como um mochileiro que navega pelas galáxias vivo a tentar sobreviver nas probabilidades dos pensamentos de outros e tendo desvendar por que tão longe tais olhares mesmo estando rodeado de pessoas? Olhares que me soam tristes e amargurados, que ao ver um semelhante sorri esperando que a sua dor não seja percebida ao mesmo instante em que grita por socorro e agarra a esperança.

Nas pequenas tarefas do dia eu percebo que desvendar pensamentos é como descascar uma cebola em suas demasiadas e exaustivas camadas que a cada profundidade revela-se mais obscuridade que no fim apenas deseja por alguém ser encontrada. É como sonhar estar fora da atmosfera e sem ar para respirar se vê sufocado de verdade que não consegue aceitar, é perceber que olhos distantes com pessoas tão próximas é buscar na magnitude da longitude o estender da mão de uma gloriosa silhueta de alguém que sabe o que é sofrer. Mas que sabe se compadecer.

No dia seguinte, ao voltar para o porto encontrei aquelas pessoas com olhares longínquos e mazelas da vida, mas que enfaticamente alegavam sorrir quando alguém se aproximava, mas eu conseguia ouvir em seus retinir silencioso e doloroso a fúria dos mares que em si habitavam e no profundo nada mais esperavam alguém que os pudesse acalmar.

Então percebi que olhares tão longínquos nos dizem onde estão, nos dizem de onde são, dizem aquém estamos, aquém queremos e aquém, a catarse que tanto ansiamos encontrar.

Algumas semanas depois descobri que olhares longínquos querem estar onde a catarse está a habitar. Porque olhares tão longínquos querem a casa que habita em meio ao mar,

— Os relatos de Theodor Baptista.

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Bruno Mendes

Da comunicação teço narrativas que nos levam a pensar não apenas sobre o aqui, mas sobre a eternidade.